terça-feira, 2 de julho de 2013

Entendendo a mitologia das bruxas

Eu estava lendo a resenha do Bruxas que a autora Marcele Cambeses postou no blog dela (leia aqui) e, nas considerações finais, ela apontou para o fato de uma pouca presença de rituais mágicos mais complexos no decorrer do livro. Existem exemplos de bruxas e seus diversos rituais em um monte de livros por aí, mas, no mundo de Dorothi, Malena, Firda e cia, os rituais não importam tanto quanto fazer o feitiço certo.

Bom, a verdade é que muito mais sobre a história das bruxas vai sendo explicada em O Coração da Magia e no último livro, mas não vejo motivo pra esperar tudo isso pra contar uma coisinha ou outra pra vocês. Então agora, vou explicar um pouco mais sobre a mitologia e a história que criei para as bruxas no universo da Trilogia. Espero que vocês gostem :)

Primeiro, vamos voltar uns 6 ou 7 séculos no tempo. Talvez até um pouquinho mais. A data é bastante imprecisa, como em qualquer história contada verbalmente. Mas, há muito tempo atrás, houve um homem que fraquejou diante dos horrores do mundo - a fome, a violência, a devastação das pessoas pelas pragas. Ele não tinha nada nem ninguém no mundo, mas se ressentia em ser frágil e pequeno diante das muitas ameaças do universo contra ele. Então, ele buscou Deus.

No seu papinho com Deus, ele pediu para ser agraciado com um grande poder, capaz de salvar vidas e
garantir o futuro de uma raça humana melhor e mais apta à sobrevivência. Mas Deus viu egoísmo em seu coração, e, sabendo que nenhum homem poderia ter tal poder, recusou. O homem, então revoltado com Deus, selou um pacto com o Diabo em pessoa: ele teria poderes inimagináveis, e seria capaz de passá-los adiante para aqueles que escolhesse, e, quando morresse - de uma maneira peculiar, que eu não posso contar agora - sua alma permaneceria trancada na cela mais profunda do Inferno. Ele concordou.

E assim, nasceu o Senhor das Almas.

Por que "Senhor das Almas", vocês me perguntam? Porque ele escolhia aqueles a quem concedia o dom da magia, almas ambiciosas e sedentas, mas quase sempre em situação precária, desfavorecida. As almas dos "agraciados" passariam, então, a pertencer-Lhe - e, consequentemente, a pertencer ao Inferno. Bruxos e Bruxas são, por assim dizer, criaturas do mal, ainda que não soubessem exatamente para que estavam se alistando. Mas isso é conversa pra outra hora.

Enfim, sendo o Senhor das Almas o "bruxo original", e o Pai e fonte de toda a magia, é apenas natural que todos os feitiços se refiram a ele. Assim sendo, todos os feitiços são, em suma, uma prece ao Senhor das Almas. A sua eficácia depende da combinação de palavras (geralmente, mas não obrigatoriamente, em versos rimados), da boa vontade do Senhor (chego nisso já já) e, às vezes, de certos ingredientes. Certos feitiços tem certas necessidades, que podem ser Oferendas ou Ferramentas.

Pra explicar isso, vou usar spoilers do primeiro livro. Se ainda não leu, pule o próximo parágrafo.

Por exemplo, quando a Dorothi fez o feitiço que selou sua reencarnação (bem desnecessariamente, já que a praga na fogueira lhe garantiria exatamente a mesma coisa), ela cortou a palma da mão, e seu sangue flutuou no ar. Seu sangue era Ferramenta (já que a alma enfeitiçada era a dela) mas também era Oferenda, pois um feitiço muito forte demanda um pagamento maior - meio como quando a Malena oferece sua vida para matar Kathi e Megan. Outro tiro que saiu pela culatra. Pensando bem, eu faço muito isso.

Fim dos spoilers

E por que dependem da boa vontade do Senhor, vocês me perguntam? Bom, poder elas já tem. E Ele já tem as almas de todo mundo. Mas ele continua sendo a fonte primária, e certas coisas não são permitidas. Uma bruxa não consegue cometer suicídio usando magia, por exemplo. E, teoricamente, tampouco pode assassinar outra bruxa - a menos que o próprio Senhor das Almas conceda essa permissão, como fez com a Malena. Essas regras não são claras, então não existe um Manual, assim como não existe um Livro de Feitiços para todas as bruxas. Porque tudo é permitido, desde que o Senhor das Almas permita. E só se conhece a permissividade na tentativa. Enquanto o Livro de Feitiços das von Evans pesa toneladas e tem séculos de feitiços anotados, o de outra bruxa pode ser um caderninho de 90 páginas pela metade. Ela só conhece aquilo que aprendeu ou que tentou executar sozinha.

Em suma, o que eu tentei passar aqui foi: não, não são necessários grandes rituais, porque grandes Oferendas só são feitas em grandes feitiços, e grandes feitiços são aqueles que desafiam as leis (quaisquer sejam elas) do Senhor das Almas. Mais do que tudo, a bruxaria é uma religião, e o Senhor das Almas é o seu deus. E pra quê fazer uma missa se você pode só se ajoelhar e rezar o terço?

Espero que tenham gostado :)
Se quiserem saber mais alguma coisa, perguntem aí! Vou adorar responder!
Beijocas,
Larissa

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